Ser APLV (não) é Fixe!

Estamos perante um fenómeno!?

Será moda? Alguém na esquina a dar notas de 1000€ a miúdos APLV? Dá algum estatuto especial? Estou mesmo curiosa.

A internet tem destas coisas… Nos últimos meses tenho estado atenta a várias publicações sobre alergias, nomeadamente APLV e o que salta à vista é a quantidade imensa de bebés/crianças com APLV. Mas juntamente com esse ‘diagnóstico’ vem a desinformação generalizada, os auto diagnósticos, os diagnósticos de outras pessoas que se acham médicas e não faltando o Dr. Google!

CASO 1

Ora vem a mãe da Maria e diz:

A minha filha tem APLV, faz diarreia uma vez por dia e a médica mandou retirar tudo o que tem lactose” .

Hum!!!! Alguém encontra os erros?

Meus amigos Alergia À proteína do leite de Vaca NÃO É O MESMO que Intolerância à Lactose! São conceitos distintos com sintomas distintos! Das duas uma ou precisam de um novo médico ou então de aprender a usar melhor o Dr. Google. E só é considerado diarreia quando há, efectivamente, mais de 6 descargas completamente liquidas por dia.

CASO 2

Diz a mãe do Joãozinho:

O meu filho é APLV mas bebe leite HA (Hipoaergénico) e come manteiga e queijo sem reacção.

A sério? Que raio de alergia é essa? Alergia selectiva a certos alimentos com leite? ATENÇÃO, crianças alérgicas a APLV devem evitar todos os alimentos que contenham leite, assim como aditivos e determinados brinquedos. Proteína do leite encontra-se nos mais variados artigos

Caso 3

E depois vem a mãe da Francisca:

Ah, a minha filha é igual. Isso quer dizer que têm uma alergia fraquinha.

Alergia fraquinha? Vamos lá ver se nos entendemos. Alergia é alergia. Pode ser IgE não mediada, cujos sintomas, habitualmente são mais intestinais, ou podem ser IgE mediados cujos sintomas são mais a nível respiratório, intestinais e dermatológicos.

Caso 4

O caso fica ainda mais interessante quando a mãe do Zézinho diz:

O meu filho é APLV, tem 2 meses e também é Intolerante à Lactose.

O que a maioria das pessoas não sabe é que é EXTREMAMENTE raro um bebé ser intolerante à lactose! Existem diferentes tipos de intolerância à lactose em bebés, são elas:

Deficiência congénita de lactase

Anomalia genética grave e extremamente rara. Por norma é detectada poucos dias após o nascimento do bebé, que apresenta sinais de desidratação e mal-absorção, comprometendo o desenvolvimento e ganho de peso do bebé e consequentemente a sua própria vida, caso não ocorra uma intervenção clínica atempada. Caracteriza-se pelas baixas concentrações, ou mesmo inexistentes, da enzima lactase, responsável pela digestão da lactose em glicose e galactose. Quando tal não acontece, não é possível a absorção da lactose. 


Galactosemia

É outra anomalia genética igualmente rara e grave, que afecta a metabolização da galactose, um monossacárido, resultante da degradação da lactose, estando assim indiretamente relacionado com a intolerância à lactose e podendo apresentar diferentes graus de severidade.


Na primeira situação e em muitos dos casos de galactosemia o bebé não poderá ser amamentado, tendo que se proceder à substituição do leite materno, devendo-se recorrer a fórmulas infantis sem lactose.
Alguns bebés prematuros, podem ainda apresentar dificuldade em digerir a lactose já que até às 34 semanas de gestação o seu tracto gastrointestinal é ainda demasiado imaturo apresentado défice de lactase. No entanto, a situação resolve-se por si mesma, não existindo qualquer efeito deletério do leite materno ou mesmo das fórmulas com lactose, a longo prazo.

Artigo completo aqui: http://www.papinhasdaxica.pt/2016/08/o-meu-bebe-e-mesmo-intolerante-a-lactose/

Ou seja, é relativamente comum, cerca de 10%, crianças serem Intolerantes à lactose. Mas um bebé ser intolerante à lactose é, felizmente, raro!

CASO 5

E não pode faltar a mãe da Joaquina!

O meu filho é bastante grave, reage através do cheiro, não pode sair à rua. Mas eu cozinho com lacticínios em casa, nessa altura ele não pode ir à cozinha fica na sala.

Sim! A reacção alérgica alimentar pode dar-se através da inalação. Porque ao cozinhar são libertadas micro partículas que ao serem inaladas provocam resposta do sistema imunitário… Mas não basta não entrar na cozinha!

Por isso eu pergunto… Ser APLV é FIXE? Dá estatuto? Dá dinheiro? só para saber onde ir tratar disso!! Aqui em casa é a dobrar, quem sabe a triplicar e num futuro próximo a quadriplicar!

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Juro que quando leio estas coisas fico fora de mim. Porque depois há o outro lado. Mães que me enviam mensagens porque as alergias dos filhos não são levadas a sério. Porque, infelizmente na sala dos filhos, há aquela “criança alérgica” que pode comer iogurte e queijo porque não faz mal. E a outra criança que reage por cheiro mas nunca fez testes nem tem o Kit de Adrenalina… São essas “Crianças alérgicas” que fazem com que as outras não tenham o tratamento necessário nas escolas e espaços públicos.

Agora mais a sério!

APLV é a alergia mais comum em crianças com idade inferior a 3 anos. Mas também é a alergia que em 85% dos casos é Transitória.

Na suspeita clínica de APLV baseada na anamnese e exame físico, deve instituir-se dieta de eliminação durante um período variável consoante o quadro clínico, seguida de um teste de provocação oral (TPO) que irá confirmar/excluir o diagnóstico. Exames complementares como testes cutâneos e análises específicas poderão ser necessários.
O tratamento baseia-se na dieta de eliminação. Habitualmente repete-se o TPO após três a 12 meses de dieta de eliminação, verificando-se aquisição de tolerância em mais de 80% das crianças aos três anos de idade.

Artigo completo – http://revistas.rcaap.pt/nascercrescer/article/viewFile/8601/6154

Não é nada incomum ler relatos de pais cujos filhos encontram a cura apenas com dieta de eliminação. A maioria desses casos são os IgE não mediados. Não sendo claro, regra. há casos em que mesmo crianças, com IgE não mediado, não estão nesses 80% de Alergia Transitória.

Quem nos segue sabe que somos muito positivos relativamente às alergias dos nossos filhos, que infelizmente não se resume a ser APLV. A nossa prioridade é que eles tenham uma INFÂNCIA o mais NORMAL possível. Damos formação intensiva a quem lida com eles diariamente. Procuramos soluções e alternativas. Recusamo-nos a que vivam reféns de algo que não pediram. Porque infelizmente fazemos parte dos 15% de APLV que não teve cura. Além de todas as outras alergias, igualmente graves, que tentam limitar o nosso dia a dia.

Por isso caros leitores, apesar da nossa postura positiva…

Ser APLV NÃO é FIXE!!